segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O Vento






O sipreste inclina-se em fina reverência

E as margaridas estremecem, sobressaltadas.

A grande amendoeira consente que balancem,

Suas largas folhas transparentes ao sol.

Misturam-se uns aos outros, rápidos e frágeis,

Os longos fios da relva, lustrosos, lisos cílios verdes.

Defrontes rendadas de acácias palpitam inquietantemente,

Com o mesmo tremor das samambaias

Debruçadas nos vasos.

Fremem os bambus sem sossego,

Num insistente ritmo breve.

O vento é o mesmo:

Mas sua resposta é diferente, em cada folha.

Somente a árvore seca fica imóvel,

Entre borboletas e pássaros.

Como a escada e as colunas de pedra,

Ela pertence agora a outro reino.

Se movimento secou também, num desenho inerte.

Jaz perfeita, em sua escultura de cinza densa.

O vento que percorre o jardim

Pode subir e descer por seus galhos inúmeros:

Ela não responderá mais nada,

  Morta e surda, naquele verde mundo sussurrante.



Cecília Meirelles


Nenhum comentário: